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Julgamento político a Fernando Lugo: Dardo ao coração de Unasul - por Juan Carlos Díaz Guerrero
Redação Central, 26 jun (Prensa Latina) Os acontecimentos de 21 e 22 de
junho no Paraguai que levaram à ruína do governo do presidente
constitucional Fernando Lugo ficarão como outro capítulo nefasto da
história republicana do pequeno país sul-americano e da América Latina.
O golpe de Estado de novo tipo - chame-se julgamento político -
aprovado por uma ampla maioria no Congresso pela câmara de deputados e
senadores, longe de intimidar, ratifica que a direita paraguaia e
mundial permanece à espreita das mudanças que estão ocorrendo hoje na
América Latina.
Não importa que o processo iniciado em 2008 com
a chegada do bispo católico à presidência não seja dos mais radicais do
continente nem que o poder fático tenha permanecido intacto nos quase
quatro anos que governou.
As forças reacionárias paraguaias, do
continente e internacionais, se preocuparam mais pela maneira como a
nação sul-americana, de pouco mais de seis milhões de habitantes, foi se
inserindo, não com poucos tropeços, na onda integracionista da região.
A ameaça de julgamento político pendeu como espada de Dâmocles sobre
Lugo desde o início de seu mandato e foi utilizada mais de vinte vezes
pelas forças políticas opositoras para ter em xeque o mandatário e seu
governo.
Entre os argumentos utilizados pela direita em todo
este período, estiveram acusações de incapacidade para governar,
supostos vínculos com o autodenominado Exército do Povo Paraguaio e com o
sequestro do pecuarista Fidel Zabala.
Esta feroz campanha, que
não parou nem um instante, incluiu também a suposta "incitação à luta
de classes" por parte do presidente e o escândalo pela denúncia de três
mulheres que exigiam reconhecimento de paternidade de seus respectivos
filhos.
No final do ano passado, Lugo foi acusado e ameaçado
com julgamento político por ter supostamente violado o artigo 143 da
Constituição ao assinar o chamado Protocolo de Montevidéu, Usahia II,
sobre o compromisso com a democracia.
Os governantes dos
Estados e países associados assinaram esse documento na reunião de
cúpula do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), realizada no Uruguai em 20 de
dezembro de 2011.
A última ameaça e a gota d'água usada como
"justificativa" para levar o governante a julgamento surgiu de um
duvidoso e trágico acontecimento do qual foram vítimas mortais 11
camponeses e seis policiais quando estes últimos tentaram desalojar os
trabalhadores rurais de uma fazenda cujo proprietário é do Partido
Colorado.
Ainda que nunca antes existiu consenso no Parlamento
entre as diferentes forças políticas, sendo a maioria opositora de
colorados e liberais do Partido Radical Autêntico (PLRA), agora
prevaleceu a quase total unanimidade entre os Deputados e no Senado.
Esse é um elemento importante a se considerar em um país onde atingir o
consenso majoritário passa por intensas negociações, e mais ainda, com a
rivalidade política manifesta entre liberais e colorados, não apenas no
âmbito ideológico.
Importante lembrar que Lugo chega ao
governo sustentado por uma aliança de partidos políticos e movimentos
sociais, cuja base eleitoral fundamental foi o próprio PLRA, força que o
acompanhou com altos e baixos, a favor e contra até sua destituição.
A carência de uma base política e parlamentar que o apoiassem e o
contar com uma esquerda dispersa e, por momentos, assustada,
constituíram elementos essenciais da fragilidade de seu governo, no qual
a negociação sempre foi uma válvula de escape.
Outros dois
aspectos interessantes vinculados ao questionado julgamento político,
foram sua realização a nove meses das eleições gerais de 2013 e a
rapidez com que os legisladores de ambas câmaras se puseram de acordo e o
executaram.
Os partidos tradicionais vêm se preparando com
tudo para recuperar o espaço perdido e é bastante provável que cheguem
de novo ao poder, sem um rival atraente por parte da esquerda e uma
figura ao redor da qual se poderia reunir uma aliança, ainda que nada
esteja ainda definido.
Chama a atenção também, que em ocasiões
anteriores setores como o da Igreja, empresarial e pecuarista se
opuseram à realização desse engendro constitucional, agora se
mobilizaram ou aprovaram abertamente a aplicação do artigo 225 da Lei
suprema, como foi o caso da Conferência Episcopal Paraguaia.
O
golpe de Estado, disfarçado por uma suposta legalidade constitucional,
acontece faltando pouco tempo para que o Paraguai passe ao Peru a
presidência pró tempore da União de Nações Sul-americanas (UNASUL).
Também não pode se ignorar que no vizinho Brasil mais de uma centena de
chefes de Estado e de Governo participavam na reunião Rio+20 sobre
sustentabilidade meioambiental.
Pode se interpretar que os
acontecimentos na nação guarani são um dardo envenenado disparado contra
o bloco subregional e tudo o que este representa desde o ponto de vista
da integração da América do Sul.
Por isso, este golpe à
democracia ultrapassa as fronteiras paraguaias e se insere em um novo
capítulo de servidão da direita latino-americana e internacional contra
os povos do continente.
Não cabem dúvidas que por trás deste
sinistro plano - repetido uma e outra vez na história da América Latina -
estão as mãos escuras dos Estados Unidos, principal interessado em
conseguir o retrocesso continental.
O sociólogo paraguaio Tomás
Palau, falecido recentemente, assegurou em entrevista à Prensa Latina
que seu país "em certa medida, é essencial para as pretensões
estadunidenses, não só por sua localização geográfica, senão pela adesão
das lideranças políticas com respeito à relação com Estados Unidos".
No período de 35 anos que governou o ditador Alfredo Stroessner
(1954-1989) - disse Palau - mais de uma geração de políticos se formaram
nessa "incubadora", todos iguais desde o ponto de vista ideológico.
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